Qual a linha tênue entre ser autêntico e expor o que não deve?

Nos últimos dias, uma pergunta ficou martelando na minha cabeça: o mercado está finalmente amadurecendo ou é só impressão minha?

Quem me acompanha há mais tempo – e quem conhece meu trabalho no corporativo – sabe que eu nunca fui fã da "ditadura do alcance". Mesmo quando "todo mundo" dizia que o importante era ser visto por milhões a qualquer custo, eu insistia na relevância, no engajamento.

Preferir falar com 10 pessoas que compram a sua ideia do que com 10 mil que nem sabem quem você é não é uma "nova tendência" para mim. É premissa básica de negócio e comunicação estratégica.

Mas o ponto agora é outro. A conversa evoluiu para a Autenticidade.

Hoje, existe um consenso de que marcas e líderes precisam ser "reais" para gerar conexão. E eu concordo. Ninguém mais aguenta jargões e pegadinhas em textos para vender ou comunicar algo. Mas, na vontade de serem autênticos, vejo muitos profissionais cruzando uma linha perigosa: a do excesso de exposição.

O Efeito "Sharenting" nos Negócios

Li recentemente sobre o conceito de Sharenting (compartilhamento excessivo da vida dos filhos pelos pais), e os riscos que isso traz para a privacidade e o futuro das crianças (deixo o link nos comentários se você não viu uma excelente campanha da Irlanda que exemplifica bem isso).

Isso me fez traçar um paralelo com o mundo das empresas.

Muitos empreendedores estão fazendo "sharenting" da própria marca. Na busca por likes e conexão rápida, expõem vulnerabilidades que não precisavam, misturam o pessoal com o profissional sem filtro e, no fim, diluem a própria autoridade.

Autenticidade não é transparência radical. É intencionalidade.

Você não precisa mostrar seu café da manhã ou o caos da sua mesa para ser autêntico. Você precisa mostrar a sua visão de mundo, os seus valores e como você resolve problemas reais.

Não existe uma fórmula mágica, mas separei alguns filtros que uso na minha consultoria (e na vida) para garantir que a autenticidade trabalhe a favor do negócio, e não contra:

  1. Utilidade: antes de postar algo pessoal, pergunte-se: "Isso ensina algo? Inspira? Ou gera uma reflexão útil para o meu cliente?". Se for apenas vaidade, repense.

  2. Cicatriz x Ferida: falar de um erro superado (cicatriz) gera autoridade e ensina. Falar de um problema que você está vivendo agora, no calor da emoção (ferida), pode gerar desconfiança sobre sua capacidade de gestão.

  3. Defina seus territórios: escolha até três temas que fazem sentido com sua marca (ex: esportes, cultura, meio ambiente) e mantenha o resto preservado.

E você, sente essa mudança também? Qual é o seu limite hoje nas redes?

____________________________________________________________________________________

Aline Caio é especialista em comunicação estratégica e reputação de marcas, com 20 anos de experiência. Atua no planejamento e posicionamento de pessoas e empresas, unindo propósito, valores e comunicação para construir marcas fortes, autênticas e de alta reputação. Fundadora da PraGente Consultoria em Comunicação. Coautora do livro Brand Publishing na Prática.

Próximo
Próximo

Storytelling: por que precisamos voltar a ser contadores de histórias estratégicos